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Quando as Águas Sobem

e o Vento Bate Forte

Por Raimundo Sousa, em 09 de fevereiro de 2022

   Início de ano passa sempre o mesmo script entre nós brasileiros. Acabamos de sair do espírito de Natal e ano novo, que começou lá em novembro, e nos preparamos para o mundo real enfrentando os grandes desafios numa sociedade evolutiva. Para muitos, são contas a pagar decorrentes das festividades, IPVA, IPTU, Conselhos Profissionais, matrículas e material escolar para filhos e netos, e as chuvas de verão, entre outras ocorrências. Embora todos sejam previsíveis, o gerador de impactos muitas vezes incontroláveis são as chuvas de verão, que frequentemente nos surpreende com intensidade e velocidade, causando destruições e prejuízos materiais, ambientais, sociais e comunitários.

   Refletindo sobre o impacto das chuvas deste verão, sobre o mundo absolutamente imprevisível que estamos vivendo desde março de 2020 e o panorama social e econômico do presente, me coloquei a pensar sobre algumas estratégias para mitigar ao menos parcialmente os efeitos das águas subindo e ventos intensos.

 Numa perspectiva pessoal temos acompanhado o expressivo impacto que a pandemia produziu na vida das pessoas. As grandes mudanças de hábitos, dentre as quais se isolar e viver mais tempo juntos produziu fortes desequilíbrios na saúde mental, aumento expressivo de obesidade, alterações substanciais de comportamento, incluindo a desistência de se viver juntos, entre outros. Dados publicados recentemente nos dão conta de que o volume de divórcios e separações cresceu 24% nos últimos anos, decorrente sobretudo do estresse emocional que reina entre nós. Medos, inseguranças, tensão e conflitos são considerados fatores altamente contributivos para a geração deste estresse emocional que impacta diretamente o funcionamento do nosso cérebro, e por consequência pode nos conduzir a decisões não racionais. Uma dica dos especialistas é não deixar a água subir e aos primeiros sinais buscar ajuda profissional. Assim como outras patologias, a saúde mental, quando a tratamos logo após os primeiros sinais, os resultados aparecem mais rápidos, ficando menos sujeitas às ventanias que o dia a dia da vida nos apresenta.

   Numa perspectiva social e comunitária, é inegável o aumento da fome no Brasil, sobretudo entre as pessoas vulneráveis e o número de gente morando nas ruas. Dados da Rede Penssan em 2020, 55.2% da população vive algum tipo de restrição alimentar, dos quais 20.5% com insegurança moderada e severa. De acordo com dados recentes da OXFAM Brasil, são mais de 20 milhões de brasileiros sem ter o que comer direito. No tocante aos moradores de rua os números também são alarmantes e crescentes... Fala-se em mais de 35 milhões no Brasil com crescimento acelerado nos últimos dois anos segundo dados de sindicalistas. O IPEA indicava mais de 220 mil pessoas em 2020, mas com tendencia crescente ao longo dos anos. Somente na cidade de São Paulo, com dados oficiais da Prefeitura entre 2019 e 2021 cresceu mais de 30% (de 24.344 para 31.884 pessoas).  Nós sabemos que na vida real este número é maior ainda. O fato é que basta olhar ao nosso redor onde estivermos, e não será difícil confirmar esse fenômeno. Na capital de são Paulo, não vamos sequer falar do centro velho, mesmo quem transita pela região da paulista, jardins, e localidades antes consideradas padrões A, percebe o aparecimento e forte crescimento de moradores nestas condições. Em analogia ao tema central da nossa reflexão, parece-nos que “as águas estão subindo rapidamente” e se não agirmos de maneira equilibrada, determinada e efetiva, ventos poderão causar estragos maiores e incalculáveis no tecido social onde estamos inseridos.  Não há “balas de prata” aqui, ou apenas uma ação. Ações públicas, privadas e comunitárias preferencialmente de forma integrada, são necessárias com absoluta urgência. Na perspectiva pública, nós temos levado essas preocupações aos nossos representantes legislativos nas três esferas, bem como aos executivos públicos diretamente envolvidos com os temas. Nas perspectivas privadas e comunitárias temos nos posicionado ativos, contribuindo dentro dos padrões que estabelecemos. Temos visto muita gente adotando posturas próximas, superiores ou semelhantes às nossas. Ficamos felizes com isso. O que definitivamente não podemos é ser insensível a esta situação. Como você tem se portado diante disso?

 Finalmente quero compartilhar a perspectiva de negócios/empresarial, que de pronto é impactada pelas duas perspectivas anteriores. A questão da saúde mental tem produzido perdas significativas de eficiência nas organizações ao redor do mundo, mesmo antes da pandemia. Vida saudável é o terceiro dos 17 ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na Agenda 2030 da ONU. Com a pandemia certamente potencializou as demandas sobre esse tema. As desigualdades apresentadas na segunda perspectiva excluem do mercado uma parcela altamente significativa de consumidores potenciais com impacto direto sobre os negócios. Mas a abordagem que desejamos trazer aqui está relacionada com a velocidade das transformações dos processos por conta da tecnologia. Com o tempo de estrada que temos, vivenciamos alguns movimentos importantes como reengenharia... e ultimamente BPM. Eu tenho muitas estórias, e penso que você também possa ter, de empresários e executivos que deixaram as águas subirem e em alguns casos os ventos destruírem negócios em razão de não terem “percebido a tempo” as forças das mudanças.  Em melhorias de eficiência de processos, parece-nos que agora a bola da vez agora é o tal do Process Mining (ou em português mineração de processos). Trata-se de uma maneira de transformar dados em conhecimento e produzir melhorias de eficiência nos processos e nos negócios. Objetivamente, você captura os eventos registrados eletronicamente nos processos ao longo de um determinado tempo, e com o apoio de ferramentas tecnológicas, faz inferências sobre como eles funcionam na prática, e promove melhorias que os tornem mais eficientes e competitivos. Não permita que as águas subam e te apanhe despreparado neste tema. Esteja atento aos processos do seu negócio, conheça-os e implemente as mudanças adequadas.

   Como temos feito, trazemos a discussão temas que julgamos relevantes para os tempos em que estamos vivendo. Não temos o propósito de aprofundar a discussão neste fórum, mas nos colocamos à disposição para avançar na medida em que houver interesse. Se essa mensagem te despertar para os assuntos tratados, consideramos ter alcançado nosso objetivo.

   Já é fevereiro, mas nunca é tarde para lhe desejar um ano 2022 vitorioso. E esteja certo de que a vitória dependerá em grande parte das atitudes que você tomar no dia a dia da sua vida.

   Obrigado pela leitura. Se desejar, comente, conteste, contraponha-se.